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O Vimieiro é uma freguesia portuguesa do concelho de Arraiolos , com 252,47 km² de área e 1.600 habitantes (2001). Densidade: 6,3 hab/km². Constituída pelas povoações de Bardeira , Venda do Duque e a vila de Vimieiro.
Foi sede de concelho entre 1257 e 1855. São conhecidos dois forais, o primeiro atribuído por D. Martinho Peres, bispo de Évora , em 1257 e o segundo por D. Manuel I, rei de Portugal, em 1512. Era constituído, em 1801, pelas freguesias da vila e de Santa Justa. Tinha então 1.819 habitantes e 266 km². Em 1849 era constituído apenas pela freguesia da sede.
O Vimieiro detém a categoria de Vila .
Descrição
Sitio aberto, de vastos horizontes, situado numa encruzilhada de caminhos importantes e estratégicos desde a Pré-história.
Terra plurifacetada prenhe de influências, viu, e certamente sentiu, em tempos de transumância passar maiorais serranos do centro de Portugal, na demanda de suculentas pastagens e invernos menos rigorosos, ali, para os lados dos campos de Ourique. Estas enormes caravanas de gentes e animais utilizavam um trajecto, nem sempre pacífico, a pé, através da chamada Canada Real. Após travessia do Tejo, em Vila Velha de Ródão , percorriam os campos de Nisa e Alpalhão até Fronteira , onde se bifurcava a rota. Uns seguiam por oeste, outros para este, voltando a encontrar-se no Monte da Estrada (Vimieiro). Daí rumavam para Venda do Duque, Vale do Pereiro e campos de Évora , prosseguindo até Ourique . O regresso, já com o Verão à porta, processava-se pelo mesmo itinerário.
Toponímia
O seu topónimo, Vimieiro (Lat. vimenaria ), gerou controvérsia, mas, recentemente, afastou-se a hipótese de terras de vimes, dada a secura da área, a não utilização de vimes na empa da vinha, nem de pipas e tonéis, mas talhas de barro no fabrico do vinho. Resta, portanto, a colonização interna no sec. XIII por gente do Norte, provinda de localidade homónima do norte de Portugal.
A freguesia do Vimieiro tem ocupação romana desde, pelo menos, o Neolítico, como o comprovam as várias antas existentes no seu território. Mas os mais antigos vestígios civilizacionais são romanos. Três pontes e duas calçadas características do modo de construção romano constituem provas físicas e indiciam que o território da actual freguesia tenha sido parte integrante de uma via secundária do Itinerário de Antonino Pio, constituído por três vias principais que ligavam Olisipo (Lisboa) a Augusta Emerita (Mérida), e várias vias secundárias que ligavam aquelas três entre si.
Mas o aglomerado populacional que deu lugar à vila do Vimieiro será muito provavelmente do século XII ou inícios do século XIII, tendo-lhe sido outorgado um foral em 1257, o primeiro documento em que a vila é referida.
Até 1437 teve administração da Coroa, mas nesse ano foi criado o senhorio do Vimieiro, com o seu primeiro donatário a ser D. Sancho de Noronha, Conde de Odemira. Foi o primeiro de doze senhores que exerceram o seu poder na vila, tendo cinco deles ostentado o título de Conde do Vimieiro.
Durante a Baixa Idade Média e Época Moderna foi uma entre várias vilas da região com um estatuto de nobilidade, sede de condado com direitos e deveres foralengos, já que em 1512 D. Manuel I também lhe atribui foral.
Mas o apogeu da vila foi no século XVIII, mais precisamente durante a dominação de D. Sancho de Faro e Sousa, senhor que foi responsável pelas intervenções de restauro e enriquecimento arquitectónico e ornamental no seu palácio e na Igreja Matriz. Para além disso, por influência da sua mulher, a ilustre poetisa D. Teresa de Mello Breyner, tornou o Vimieiro num centro de tertúlia cultural, recebendo no Palácio da vila os mais distintos intelectuais do Portugal de então, onde brotavam as conversas à volta dos ideais Iluministas e da Arte Neo-Clássica, ainda hoje tão evidente na decoração do Jardim do Paço da vila.
Em 1801, com a morte de D. João de Faro e Sousa, extingue-se o senhorio da vila por inexistência de herdeiros. O Vimieiro passa para a posse da Coroa e em 1855, no âmbito de sucessivas reformas administrativas do Liberalismo, o concelho do Vimieiro é extinto e incorporado no de Arraiolos, onde permanece até hoje.
Até à actualidade o Vimieiro foi perdendo alguma importância na região, e as cíclicas crises políticas e económicas que têm assolado o país diminuíram drasticamente os níveis populacionais da vila, facto que é comum à maioria das terras do Alentejo. No entanto, as pessoas do Vimieiro mantêm características singulares e que lhes conferem uma identidade muito própria, de que são exemplo a sua natureza festiva e a tradição musical, ainda hoje muito enraizada.
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MULHERES DO SÉCULO XVIII
A CONDESSA DO VIMIEIRO – TERESA DE MELLO BREYNER
“O papel das mulheres no campo do poder, sem ser o que ocupa o primeiro plano, não pode ser considerado como subalterno, já que não podemos definir assim a função de quem negoceia na corte, por exemplo, como é o caso da condessa de Oyenhausen, o posto da máxima representação de Portugal na Áustria, ou da condessa de Vimieiro, que, durante o reinado de D. José I, é a pessoa encarregada de gerir as condições de vida dos Alorna e as suas possibilidades de libertação. Se atendermos, por seu turno, aos numerosos projectos que Teresa de Mello Breyner põe de manifesto na sua correspondência, também não poderemos considerar o seu papel no campo intelectual como subalterno.
Como explicar então a distorção existente entre as possibilidades de intervenção por parte das mulheres, verificadas a partir da documentação coeva, e a sua ausência da historiografia? Para entender este aparente paradoxo teremos que considerar duas perspectivas: a construção da historiografias desde um posicionamento ideológico que atribui às mulheres aquelas características construídas como femininas (passividade, privacidade) e as estratégicas de ocultação utilizadas pelas próprias mulheres setecentistas.
No que respeita à primeira perspectiva indicada, a partir dos finais do século XVIII e, sobretudo, a partir do triunfo do liberalismo no segundo terço do século XIX, consolida-se um modelo social que restringe as possibilidades das mulheres de participar na vida política. A existência da corte e da confusão entre público e privado que propiciava o modelo da monarquia europeia do Antigo Regime, sobrepondo a estrutura familiar à estrutura do governo, permitia, como vimos ao longo deste trabalho, que as mulheres participassem da vida de corte fazendo valer no campo do poder todos os seus capitais.
O carácter interventor da ilustração levava implícita uma ambição regular e codificar todos os aspectos da sociedade, particularmente o da educação e, ligadas a esta, as relações sociais e as estruturas de poder, ambição que não podemos separar da necessidade da burguesia emergente de conhecer e dominar os padrões sociais que para a primeira nobreza estavam inscritos no seu habitus. Este processo explica a ambição de controlar e neutralizar o poder de intervenção na corte de que podiam gozar determinadas mulheres, porque se trata de uma forma de poder (a) de feição aristocrática, e (b) oculto e baseado em critérios não objectiváveis do ponto de vista da burguesia emergente que punha em valor os seus capitais académico e económico frente a um capital simbólico procedente da antiguidade das famílias, do seu prestígio social ou da sua formação privilegiada à margem das instituições. Isto é, determinadas mulheres da primeira nobreza conformam um poder na sombra com grandes possibilidades de actuação tanto no campo intelectual como no campo do poder. A habilitação para este tipo de intervenções não vem legitimada por nenhuma instituição académica como podem os colégios ou a Universidade, mas unicamente pelo capital simbólico da família a que pertencem.
É precisamente a incapacidade para concorrer nos lugares em que se criam, difundem e promovem ideias e actuações sociais que explica a emergência ao longo do século XVIII de um movimento, fundamentalmente burguês, que pretende cortar o poder e a formação das mulheres. O domínio que a nobreza exercia no campo dificultava grandemente a penetração e a consolidação das classes médias, tanto no campo intelectual, como no campo do poder. No mesmo sentido, não parece que o intento, finalmente conseguido, de reduzir o poder das mulheres tivesse como objectivo tanto o ataque explícito contra a sua condição de mulheres como acabar com um dos principais mecanismos de intervenção no campo das casas da primeira nobreza. Parece lógico, portanto, que um sector dos ilustrados que reivindica o fim dos privilégios em favor das habilitações académicas pertinentes tentasse por todos os meios limitar este poder feminino, desenhando uma educação orientada para tornar atractivo e natural o papel exclusivo de esposas e mais: acabando com a educação exemplar de determinadas damas nobres, desactivava-se o capital que as habilitava para a intervenção no campo, e, em troca, oferecia-se um novo papel na sociedade.
Teresa de Mello Breyner representa uma posição elitista que se manifesta no seu posicionamento em relação à educação das mulheres. Num momento em que estão presentes na sociedade europeia discursos a favor e contra novos direitos para as mulheres, incluída a formação académica, encontramos na condessa de Vimieiro uma perspectiva claramente vinculada à sua posição como mulher da nobreza. Esta implica uma ampla formação que não é posta em questão e que a capacita para aceder a determinados lugares de privilégio, tanto no campo do poder como no campo intelectual, o que explica a defesa de um modelo de educação similar ao seu para Leonor de Almeida, mostrando-se, ao mesmo tempo, partidária de uma educação mínima para as pessoas da classe social mais baixa.
A defesa de uma educação elitista para as mulheres faz-se reivindicando uma tradição feminina de determinadas famílias da primeira nobreza, que contavam desde há tempos (não podemos calcular exactamente quais as famílias nem desde quando) com as mulheres de alargado capital cultural, o que resultava útil para a acumulação de poder e de todo o tipo de capitais para as suas casas.
A coincidência dos factores apontados faz com que hoje seja difícil encontrar estudos historiográficos que encarem o papel das mulheres da nobreza na vida de corte e, por extensão, no campo do poder do Antigo Regime. Ainda assim, e apesar das dificuldades existentes para localizar documentação que permita este tipo de pesquisa, existem indícios suficientes para a elaboração de hipóteses neste sentido.”
Mulheres do Século XVIII - A Condessa do Vimieiro
Autora: Raquel Bello Vázquez
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